segunda-feira, 17 de novembro de 2014

#10 Voar de balão de ar quente





Não sei se já repararam mas a imagem de marca que a minha querida Alexandra, A Grande desenhou para o meu blog, foi precisamente um balão de ar quente. Qual não é o meu espanto quando me chega à caixa de email do trabalho um press release de um festival alusivo precisamente a esta prática, na semana entre 10 a 16 de Novembro. Sendo que tive oportunidade de ir fazer reportagem através do Guia da Cidade, agarrei em mim e na Débora e rumámos na passada quarta-feira até ao Alto Alentejo.



Tenho de referir que este dia reunia nele próprio vários eventos que eu queria simplesmente deixá-los ir para fora da minha cabeça. Voar de balão, pareceu-me o melhor antídoto possível para escorraçar qualquer tipo de preocupação da minha mente, afinal se caísse não haveria tempo nem para pensamentos, nem para mais nada! 

O facto é que às 10:30 em ponto estava eu à porta de casa da Débora que desceu apressada e ainda de cabelo molhado. Esbaforida da pressa, bem queria abrir o vidro do lado pendura, mas este emperrado não deixou nenhuma brisa passar. Estava um belo dia de São Martinho em atraso. Sol, céu azul e chuva à distância era o que nos caía bem!

"Ora se está assim em Lisboa, em Monforte ainda estará melhor!" E lá nos pusemos a caminho, numa viagem de três horas até ao Torre de Palma Wine Hotel, o ponto de encontro com o pessoal da Publibalão em Monforte, Alto Alentejo. Devo dizer que a viagem foi recheada de peripécias que nos fizeram libertar uma qualidade de riso tal, que as dores de abdominais ressentiram-se e lágrimas de alegria escorreram. Ele eram pequenos-almoços com preço de almoço nas estações de serviço, uma inversão de marcha arrependida à bruta, um perder para nos encontrarmos em pleno Alentejo, no meio de nenhures, onde tão bem nos sentimos e com tão pouco, fomos genuinamente felizes.

Débora: "Vai por ali, baby! No GPS diz que é por aqui."
Eu: "Mas olha que eu vi uma placa a dizer Palma qualquer coisa lá atrás, tens a certeza?"
Débora: "Sim,sim. Aqui diz que é em frente!"
Chandi: "Mas porque é que as pessoas agora confiam mais nos GPS's do que nas pessoas?" lol



Algumas poças depois e nada de hotel no horizonte, decidimos voltar atrás e depois de alguns carrocéis, demos com o bendito ponto de encontro. Com tanta coisa, e com os gastos no "pequeno-almoço com preço de almoço", acabamos por não comer nada e chegámos esganadas ao pé da Mafalda, a nossa anfitriã. Sorte: tínhamos almoço à nossa espera. 


Mafalda Soares

Um belo peixe gourmet xpto e um puré de batata e beterrada a acompanhar. A comer rapidamente, sem dar tempo de saborear o Panacotta com frutos silvestres, fomos logo chamadas para ouvir Aníbal Soares a anunciar o CANCELAMENTO DOS VOOS! Sim, leram bem: cancelamento. Foi nítido, nós duas tentámos disfarçar uma para a outra a nossa desilusão...mas por dentro estavamos mesmo desanimadas por achar que a nossa viagem atribulada tinha sido em vão...




Enquanto tentávamos encontrar outras "janelas" naquela situação, que até tinha algumas fáceis de descobrir: afinal a paisagem alentejana só por si basta para animar alguém, diz-nos um colega de imprensa: "Ah, mas vocês não se preocupem. Para a comunicação social há sempre lugar!". Ora eu não sabia se havia de ficar feliz ou aflita: bolas os voos são cancelados por motivos de segurança e nós voamos na mesma? Ahahah, pois. Isso mesmo.




Mas tranquilizem. Ninguém é louco. E toda a gente sabe muito bem o que faz. Falei com o Aníbal, o organizador do Festival Rubis Gáz Balões de Ar Quente que me explicou que os voos tinham sido cancelados pelas condições do piso, que estava molhado e lamacento. Ora num voo pelas 16:00 que deve demorar cerca de uma hora, para os carros de resgate (sim chamam-se mesmo assim e eu fiz a mesma expressão que vocês se não conheciam) irem buscar todos os balões tornava-se numa demanda épica de balões ao escurecer, correndo ainda o risco de os balões ou de as carrinhas se "atascarem" como eles dizem!



Então, segundo Aníbal, apenas os pilotos mais experientes e antigos voavam. Queriam-nos pôr com um piloto militar, que era só o mais maluco e da última vez que um colega andou, travaram o andamento do balão numa copa de uma árvore. A Débora prontificou-se logo a dizer que com ele não ia, e acabámos por voar pelas mãos do Oscar Ayala, um piloto super experiente, com rugas de tensão por pôr sempre o bem-estar dos terceiros à frente de tudo o resto. Que isto de andar de balão parece tudo muito bonito e pouco arriscado, mas o facto é que uma má aterragem pode dar muito para o torto.




Foi interessante que o mais me assustava era aterrar. Será que tenho essa dificuldade? De aterrar? Será que gosto mesmo é de andar nas alturas, a observar a realidade de longe?






Enfim. Engraçado que toda a logística para insuflar o balão é como assar castanhas: tem que se ter calma, paciência e vontade que saia tudo bem! É como os preliminares, preparam a cama para todo o voo correr o melhor possível. Então a subida para o balão foi do mais divertido possível: sim é que trepa-se, sim trepa-se literalmente para dentro do cesto do balão que já está em andamento para cima!

Libertando o cabo de aço que prende a estrutura do balão ao jipe, é só desfrutar. A subida é rápida mas suave. Decidida mas gentil, dando-nos tempo suficiente para nos habituarmos à nossa nova condição "lá em cima". 



O que foi um voo completo de cerca de uma hora, pareceu-nos um jacto de 15 minutos e nós só queríamos era continuar por mais umas boas horas a pincelar o céu com a cor do nosso balão e dos nossos sonhos.

E aqui mais uma vez aprendi que não vale a pena ter medo. Tinha medo de uma aterragem brusca, assim como tantas vezes projeto e tenho medo de outro tipo de "aterragens na vida". O que é certo é que chegamos ao momento e as aterragens às vezes são tão suaves quem nem damos por elas, e isso é porque ganhamos uma força extra que não sabemos muito bem de onde vem. 

Voar de balão. Mais um desafio superado. E as preocupações que me assolavam a cabeça varreram-se num dia recheado de emoção. 

"Quando chegares lá, logo vês. Agora preocupa-te com o agora."




Artigo Guia da Cidade. 
Fotografia de Débora Ribeiro

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