quarta-feira, 29 de outubro de 2014

#8 Sacudir os problemas pelos pés


Hoje foi um dia muito especial para mim. Daqueles dias em que por seres arrastado/a para a ação do dia-à-dia dão-te a oportunidade de dar a volta por cima sem dares por isso no momento, e quando vês já estás a deixar sair sorrisos por entre os dentes. Fui entrevistar o Michel, um dos mestres pioneiros da arte de "sapatear" em Portugal. Há cerca de 35 anos atrás Michel veio parar a Portugal por acaso, e encontrou aqui o seu lar para seguir a sua carreira de  um artista multifacetado: bailarino, actor e músico. 

No passado dia 4 de Outubro finalmente concretizou um dos seus sonhos: inaugurou um espaço exclusivamente dedicado à arte do "Tap Dance" em Lisboa: TAP DANCE CENTER, ali entranhado entre a Escola Superior de Dança e a Escola de Música do Conservatório Nacional. 




Haverá melhor localização do que esta para um novo núcleo dedicado à dança? Ainda para mais, pelas mãos de Michel, um mestre da arte de bem viver e viver bem. 

Mal entrei no espaço e vi os grandes olhos azuis de Michel senti-me em casa. Era como se o tivesse conhecido antes, e a nossa entrevista rapidamente passou de um registo de conversa informal, para um registo em modo de confidência. 




"Se tivesse que dizer os valores que a "Tap Dance" incorporam, quais seriam?" Depois de pensar um pouco, Michel respondeu com calma: "para mim o sapateado é uma arte e uma forma de me expressar, é também um exercício para o corpo, e quem trabalha o corpo trabalha a mente, afinal o único capital que nos resta ao fim ao cabo é o corpo. Para mim é também um modo de vida: descontrair, deixar ir, deixar-se levar." E foi essa leveza que Michel transpareceu durante toda a nossa conversa. Uma leveza na sua maneira de estar, de ver a vida e de a dançar. 

É preciso ser-se descontraído para dançar "Tap Dance" e vice-versa. Ora que melhor terapia para enxotar as nossas preocupações do dia-à-dia e arranjar coragem para enfrentar os novos desafios que se avizinham?









O Michel desafiou-me e eu aceitei de bom grado uma mini aula no seu estúdio novinho. O ecoar dos nossos passos sincronizados pelo chão fizeram-me esquecer a dessincronia total da melodia em que a minha vida se encontra neste momento. 

Novas aventuras se avizinham por aí: uma nova casa, uma nova vida, uma viagem num balão de ar quente, e outra transatlântica até à Argentina. Tudo isto no próximo mês de Novembro. 

Michel, conta comigo na turma de principiantes! Esta é outra das mais valias deste espaço, é que ninguém fica excluido: crianças, séniores, principiantes, profissionais, pessoas com deficiências incluindo invisuais, todos podem participar nas aulas do Michel, e quicá nos workshops dirigidos por professores convidados de todos o mundo!

A não perder, um novo espaço com muito para dar: afinal o lema de Michel é fazer as pessoas felizes. Que mais poderemos querer?


Morada: Rua do Século, 44, 1200-426 Lisboa

Horários:
2as feiras e 4as feiras*
17:00 - crianças
18:00 - iniciação adultos
19:00 - intermédios
20:00 - TAP - LAB
*há ainda horários em aberto, com o mínimo de 4 alunos.
Valores: Pack de aulas - 40€; Pack de 8 aulas - 60€, Aulas avulso - 15€







segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O sol não se engana


Este fim de semana, rumei em direção a Évora, ao Monte Serrado de Baixo. Não ia a Évora há quatro anos, mas senti um certo chamamento até porque tinha questões pendentes por resolver ali nos arredores, e alguns amigos para visitar. 



Numa fase de caos, os únicos momentos em que tudo parece voltar a fazer sentido são no seio da natureza. Una à terra, percebo como sou pequenina, como há tanta coisa "para além de mim", como há um mundo inteiro que não se controla e que tem o poder de mudar tudo de um momento para o outro. Nestes momento abandono-me ao sabor da brisa, fecho os olhos e entrego-me ao universo, acreditando que se faço parte desta rede tão perfeita, também eu ficarei bem, e que se algo está a acontecer de certa maneira, é porque tem de ser assim.

O sol não se engana. Em cada ponto do globo, nasce sempre no mesmo sítio e põe-se sempre do lado oposto. Por mais que calcorramos o mundo, irá ser sempre assim, não há enganos, dúvidas ou inquietações. Já o senhor João dizia, quando lhe perguntei se tinha fé:

"Ora tenho pois! Se o sol nasce daquele lado e morre daquele, é porque alguma coisa há! É tudo tão perfeito, que alguma coisa tem de existir!"



O senhor João foi a pessoa que mais lições me deu neste fim-de-semana no campo. Um homem de 79 anos, cujas marcas do tempo foram gentis e diria-se ter a agilidade e alegria de um garoto. Sempre tratou de animais e sempre foi apaixonado pelo seu trabalho. 

Se lhe perguntarmos se faz muito frio no inverno responde-nos que "não, há lume para aquecer e vestes para proteger" se lhe perguntarmos se faz muito calor no verão, replica que "não, há sempre uma aragenzita para nos aliviar..."

Este foi sempre o registo do senhor João, o tratador dos animais da quinta do Monte Serrado de Baixo. Lições de vida temperadas com a positividade e sensatez de quem vive no campo, muito raras de apanhar na cidade.

Cada vez mais me sinto sufocada na selva de cimento que é Lisboa, as relações fugazes, a distância dos nossos propósitos, a ausência de presença com tudo o que nos requisita a toda a hora.

Prometi ao senhor João voltar ao Monte Serrado para o ajudar com a Zurra (a burra mirandesa), as ovelhas e as galinhas. 

Um dos próximos desafios será esse.

Não deixem de visitar o Monte Serrado de Baixo se tiverem oportunidade! Vão concretizar que "o sol nunca se engana".